Um conto sobre posfácios
―Preface―
O mundo não é um posfácio.
Então nasceram os posfácios.
Não havia lição de moral alguma.
Não dava para ver o sentido ou o assunto.
Ouvia-se apenas o som do virar as páginas lentamente.
— É mesmo… Mas, de algum jeito… — Ouviu-se repentinamente uma voz humana. Jovem, e um pouco aguda.
— De algum jeito…? — perguntou uma voz diferente, encorajando a primeira a continuar. Dava a sensação de ser jovem e parecia pertencer a um garoto.
Após um breve momento de silêncio, a primeira das vozes começou a falar calmamente. Falava como se fosse para ninguém, como se quisesse se convencer do que dizia.
— Às vezes, não consigo evitar de me perguntar, será que os posfácios não são só mais uma parte textual idiota e insignificante? Será que não são algo incrivelmente desnecessário? Não entendo bem o porquê, mas existem momentos nos quais me sinto assim. Momentos nos quais não penso nada além disso. Mas nessas horas sempre sinto que todo o resto, seja o conteúdo, as ilustrações ou os frontispícios, por exemplo, é lindo e maravilhoso. É tudo tão fascinante… Quero aproximar os posfácios mais e mais de tudo isso, acho que é por isso que os sigo colocando no final de todas as obras. — Pouco depois prosseguiu: — Sei que se seguir escrevendo posfácios encontrarei muito sofrimento e bloqueios de escritor pela frente.
— Aham…
— Mesmo assim, não penso em parar com meus posfácios. É divertido, e mesmo que precise expor minha burrice, eu acho que seguiria em frente. Além disso…
— Além disso?
— Posso parar qualquer momento, independente da vontade do meu editor. Acho que por isso continuo — concluiu claramente a primeira voz para depois perguntar: — Entende?
— Pra dizer a verdade, o que você diz não tem pé nem cabeça — respondeu a outra voz.
— Mas já está bom.
— É mesmo?
— Talvez nem eu como autor entenda direito. Talvez esteja perdido pela história. E aí, talvez siga escrevendo posfácios para entender isso melhor.
— Aham…
— Pois bem, vou terminar o posfácio. Temos muitas palavras pela frente no volume seguinte… Até lá.
— Até.
Ouviu-se o murmúrio de uma caneta percorrendo o papel, até que finalmente o silêncio reinou.
Sigsawa Keiichi, primavera do ano 2001.