Kino: No meio da Floresta・b

Prólogo: No meio da Floresta・b
―Lost in the Forest・b―

E então a escuridão tomou conta.
Não havia luz alguma. Não dava para ver a lua ou as estrelas. Ouvia-se na floresta apenas o farfalhar do vento que decorava a escuridão.
— É mesmo… Mas, de algum jeito… Ouviu-se repentinamente uma voz humana. Jovem, e um pouco aguda.
— De algum jeito…? — perguntou uma voz diferente, encorajando a primeira a continuar. Dava a sensação de ser jovem e parecia pertencer a um garoto.
Após um breve momento de silêncio, a primeira das vozes começou a falar calmamente. Falava como se fosse para ninguém, como se quisesse se convencer do que dizia.
— Às vezes, não consigo evitar de me perguntar, será que eu não sou idiota e insignificante? Será que não sou uma pessoa incrivelmente má? Não entendo bem o porquê, mas existem momentos nos quais me sinto assim. Momentos nos quais não penso nada além disso. Mas nessas horas sempre sinto que tudo além de mim, seja o universo ou as pessoas, é lindo e maravilhoso. É tudo tão fascinante… Quero entender mais e mais tudo isso, acho que é por isso sigo viajando. — Pouco depois prosseguiu: — Sei que se seguir viajando encontrarei muita tristeza e dor pela frente.
— Aham…
— Mesmo assim, não penso em parar de viajar. Eu me divirto e, mesmo que precise matar, eu acho que quero viajar mais. Além disso…
— Além disso?
— Eu consigo parar a qualquer momento. Acho que por isso continuo. — Concluiu claramente a primeira voz para depois perguntar: — Entende?
— Pra dizer a verdade, não entendi direito — respondeu a outra voz.
— Mas já está bom.
— É mesmo?
— Talvez nem eu entenda direito. Pode ser que me perca pelo caminho. E aí, talvez siga viajando para entender melhor.
— Aham…
— Pois bem, vou dormir. Temos muito chão pela frente amanhã… Boa noite, Hermes.
— Durma bem, Kino.
Ouviu-se no escuro o murmúrio de roupas pesadas se esfregando, até que finalmente o silêncio reinou.